Arquivo: Tertúlia Encontro dos 50 Anos

Reunião tertuliana dos alunos com mais de 50 anos de matrícula no Liceu de Guimarães/Escola Martins Sarmento,
Data de reunião anual marcada para o 1º sábado do mês de Junho.

Recordemos de leve, num instante
(A lembrança é um Bem que Deus nos deu)
O velho casarão agonizante   
Do nosso Seminário e do Liceu!

Recordemos as nossas gargalhadas,
Os ditos galhofeiros, o banzé,
Que se findavam só às badaladas
Da Cabra que tangia o bom André...

Recordemos a nossa Santa Aninhas,
A nossa Mãe velhinha, carinhosa,
Suas palavras doces e mansinhas
Que tinham o odor de frescas rosas...

Quando a malta chumbava entristecia
E perguntava logo, toda aos ais:
- Quem foi?! Foi o Touqueiro, o Zé Maria?!
-Vós só sabeis fumar e não 'studais...

P'los nossos condisciplos que se foram
Rezemos com fervor uma Oração.
E no cimo da argila, aonde moram,
Espalhemos os goivos da paixão.


P'ra vós um grande abraço fraternal
Nesta Ceia que vem da Antiguidade...
O Sampaio vos manda outro igual,
Sua Alma assim m'o diz de saudade.
 
Delfim de Guimarães
A quando da despedida do velho Liceu
Novembro de 1959
CINQUENTÁRIOS 2008...
Aos que vieram um abraço... aos que partiram a Saudade!  

Amigos: estou de chegada
E desde já aqui peço
Humildemente perdão
Da minha voz emperrada
Que marca neste começo
A minha muita emoção

Por mais uma vez cumprir
Na vivência deste dia
E neste versos que faço
O Nicolino sentir
E a serena nostalgia
De vos traxer meu abraço!

E meu verso trepando na medida
Aqui vos digo muito à puridade
Verdades de que sofro punição:
Vai o custo de vida na subida...
O capital na sua impunidade
A construir de fome a inflação!

O tear enferruja e o arado
Já não sabe lavrar o campo morto
Por ser defunto o velho lavrador...
Da pesca o velho barco está varado:
Só barcos de recreio entram no porto
E fica sem trabalho o pescador!

O povo sem peixe p'ra comer...
Nem mesmo ò carapau outrora dado
Se as redes afogadas de fartura:
Ele que paga IVA p'ra beber
Para o IVA do pão ser bem molhado
Já não pode sofrer maior tortura!

E este mesmo povo sofredor
Levado como urso à grande feira
A repetir o seu bailado eterno
Com medo de fugir ao domador
E sem lhe dar, sequer por brincadeira
Um leve safanão p'ra seu governo!

Depois outros ilustres papagaios
Que no circo ao ar livre são presentes
Fingindo proteger o velho urso
A troco duns pinhões e samagaios
Lá repetem as ordens, diligentes
Que dá o domador no seu discurso!

E agora, senhoras e senhores:
As scutes que foram minha treta
Promovidas vereis a auto estradas...
Trocai a pestilência dos motores
Por uma divertida trotineta
Ou umas vigorosas pedaladas...

Sacrifícios exige o orçamento...
Escolas e hospitais irão fechar...
De TGV teremos novas vias...
Despedimentos feitos no momento...
Banqueiros milionários reformar...
Aos Reformados... menos fantasias!

Aqui na grande feira se promete
Fazer aquilo que ninguém faria
E dar arcada, um o CU novinho:
Basta saber usar a Internet
Para se obter no mesmo dia
O cartão duma prima ou do vizinho!

O urso de bailar já vai cansado...
Não se fiem na nova oposição...
Agora, meus senhores, daqui saio...
Se no bolso não houver trocado
Tende cuidado vós na trocação
Para o urso não ter um novo ensaio!

Assim falou com arte e com engenho
Em maratona breve de paleio
Aos papagaios que traz ao redor
È às palavras repetem com empenho
Sem pejo, nem vergonha, nem receio
De enganar o urso e o domador!

Subiram nas orelhas do poder
Em festivas escolhas os adornos
Do mais puro paleio reluzente:
E o Povo a levar, sem tal querer
Da dita Liberdade um par de cornos...
E só mais futebol p'ra toda a gente!

Dos cravos cruzamento de outras flores
Esta trintona, esta Democracia
Decerto nestas vozes de si tomba:
Acordo muitas vezes com terrores
Ao som das gargalhadas que riria
O Velho Domador de Santa Comba!

Mas hoje aqui impere a alegria
Neste sabor antigo da Saudade
A remoçar em nosso coração:
Revivamos em louca fantasia
O nosso despertar nesta Cidade
Para da Festa manter a Tradição.

Eu grito Nicolina a Liberdade
E num barco de Esperança ponho velas
Pois a sonhar Futuro não me escuso
E vou em devaneios na Cidade
A percorrer as ruas e vielas
Da Nobre Guimarães, o Berço Luso!

A.Meireles Graça, in su Tebaida de Creixomil
 Guimarães, 03-06-2008
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