Arquivo: Pregão de 1843

Bando escolástico: 1843 [Manuscrito] / Padre Francisco José Vieira de Faria
In: [Bandos Escolásticos] [Manuscrito] 1817-1872.- f.12v.-13.
Publicado na "Revista de Guimarães". Cópia do livro de apontamentos de António Joaquim de Almeida Gouveia, cartorário de S. Domingos. Existe outra cópia, feita pelo Abade de Tagilde, em duas folhas.

Recitado por Manuel José Salgado

   
O pregão de 1843 foi escrito, novamente, pelo Padre Francisco Faria da Bornaria, sendo recitado por Manuel José Salgado. O pregão, sem fugir ao modelo que se vinha a consolidar ao longo dos anos, tanto podia ser lido naquele ano, como noutro qualquer. Nesse sentido, seria intemporal, uma vez que não faz referências concretas a acontecimentos ou ao quotidiano de 1843. Cumpriu, simplesmente, a sua função: anunciar a festa que teria lugar no dia seguinte.
Não obstante, deve-se notar que é neste pregão que se faz, pela primeira vez, a carros ornamentados no cortejo do dia de Nicolau (Lá vêm ornados carros consonantes, / Com harmónica e alegre melodia / Exibições e farsas de alegria. / Esta vila amanhã é um paraíso, / Gosto tudo será, prazer e riso).

Bando escolástico – 1843 

Os ecos festivais eis retumbando,
Ò povos escutai o alegre bando,
Que função sem igual vos anuncia
Neste a vós dedicado grande dia.
Nossos votos ouvi, Nicolau santo,
Junto ao supremo trono sacrossanto,
Onde com indizível claridade
Pão visível se mostra a Divindade.
Os vossos benefícios sempre grata,
Ansiosa a juventude se precata.
Como brilha amanhã só o estudante
Dos clarins soa o eco altissonante.
Mais ao longe, atendei, ò habitantes,
Lá vêm ornados carros consonantes,
Com harmónica e alegre melodia
Exibições e farsas de alegria.
Esta vila amanhã é um paraíso,
Gosto tudo será, prazer e riso.
Se não fosse este tão glorioso dia
Dos estudos o afã quem sofreria?
Quem a estalante palmatória,
Para avivar a agudeza e a memória?
Às unhas! brada e tremebunda soa.
Essa voz magistral, que tanto atroa.
Quanto tem a lidar o entendimento,
Nessa arte que dirige o pensamento?
Subtil o metafísico se esmera
Em demonstração tanta e tão severa.
Com ornada facúndia vem Romano,
Difícil fraseador, Quintiliano.
Ò belas, deste dia que sois alma,
Sem retórica ter, levais a palma;
Oradoras sois, natural falando
E os nossos corações arrebatando.
Não pára aqui do estudante a lida
Consome as forças, o alento, a vida
Nas leis, na moral, e sacra teologia,
Sublime e divinal sabedoria;
Sem o seu bem dizer, pensar profundo,
Nação, direito e paz não via o mundo.
E pensavas competir connosco avante
Sem aulas frequentar, rude pedante?
Em sessão, nossa junta veneranda
Com severo rigor decreta e manda:
Sem ao menos assídua frequência
Por inteiro semestre e com decência,
Algum que fosse já controvertido,
Da nossa tão alta função será banido.
Madamas, não penseis que me esquecia
De testar-vos amor e simpatia.
Aqui tens, minha amada, o teu amante
Que pede em recompensa amor constante.
Eu chamo a todas vós, moças solteiras,
Aparecei-nos galhardas, faladeiras.
Em nossos corações acendei chamas,
Nos vossos respondei lindas madamas:
Como sorris à ode do casamento,
Da função de amanhã sede ornamento,
Com quem simpatizar o vosso agrado,
Nicolau abençoará o nó sagrado.
Casquilhos, alto lá! vão escutando:
Respeite-se amanhã o nosso mando.
Algum de vestezinha estrangeirada,
Usurária, perjura caixeirada,
Qualquer outro, que seja delinquente,
Mergulhado no tanque é de repente.
Podem, sim, desfrutar festejos vários,
Mas só os estudantes funcionários.
O tambor anunciando, siga avante,
O dia em que só brilha o estudante.
FIM

Transcrição e comentários de António Amaro das Neves
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