Arquivo: Pregão de 1881

[Impresso]/J.E.M.S.-Guimarães:[CFN,1881(Imp. Typographia Social).-[1] f.;31x14cm.Impresso s/ papel amarelo.-Existe uma nota no caderno manuscrito dos Bandos Escolásticos, referindo que é o de 1822 com alguns versos actuais. O autor é João Evangelista de Moraes Sarmento.

Recitado por João António Affonso Barbosa 
   
Em 1873, segundo, os jornais, as festas dos estudantes a S. Nicolau “não passaram desapercebidas”. No dia 5, saiu um bando, mas não conhecemos o seu texto, nem quem o leu ou recitou. Os festejos terão sido, segundo o jornal Religião e Pátria,” um pouco mais animados” do que nos anos anteriores. Porém, eram manifestos os sinais de esmorecimento, que o mesmo jornal explica com o facto de ter deixado de haver aula de latim em Guimarães, desde a aposentação do professor Venâncio, que se deu em 1869. O certo é que as festas dos estudantes de Guimarães entrou numa agonia que se entenderia por mais de duas décadas, apesar de algumas tentativas para as fazer ressurgir. Assim aconteceu em 1881, altura em que já funcionava o Colégio das Hortas. Alguns dos seus estudantes, auxiliados por outros que ainda tinham direito de participar nas festas, fizeram-nas ressurgir.
No dia 5, houve a leitura do bando anunciador da festa do dia de S. Nicolau. Foi lido por João António Afonso Barbosa e vem assinado com as iniciais J. E. M. S. (João Evangelista de Morais Sarmento). É uma versão, encurtada e adaptada, do pregão das festas de de 1822.


BANDO ESCOLÁSTICO
RECITADO NO DIA 5 DE DEZEMBRO DE 1881
POR
João António Afonso Barbosa

Tudo em torno de nós hoje é ventura.
Surgimos da mais torpe sepultura,
Que encerrava a mocidade estudiosa
Nas sombras duma noite tenebrosa!
Mas inda bem que Guimarães desperta
À voz do estudante, gritando = alerta!
Todos a Nicolau devem dar graças
Porque ele aniquilou fatais desgraças!
Mas tu, oh bela, ilustre Juventude,
Que a ciência cultivas e a virtude,
Tu que já da mais alta antiguidade
Usas especial festividade,
Para honrar Nicolau, qual neste dia
Não se deve ostentar tua alegria?
Onde acharás magnífico festejo
Igual ao teu vivíssimo desejo?
Aqui, ali exalçarás vistosos
De emblemas cheios, carros majestosos!
Carroças de triunfo adamascadas
De instrumentos diversos carregadas,
Pelas ruas com pompa irão rolando,
Os olhos, os ouvidos encantando!
Ah! tudo é pouco: a gratidão no peito,
Regozijo demanda mais perfeito.
Uma ideia só há que satisfaça
Só ela fecha em si grandeza e graça.
Sois vós, oh sexo amável, vós, oh belas,
Do mundo social ricas estrelas;
Sois vós, que de mãos dadas com o estudante,
A função mais completa, mais brilhante,
Qual nunca se tem visto fazeis hoje.
Vinde ligeiras porque o tempo foge:
Deixai os vossos fastidiosos lares
Vinde livres folgar em livres ares.
Agora sim! Mil vivas reboando,
Com pleno gozo, os pólos vão tocando
Nosso desejo agora é satisfeito:
Isto sim! é prazer! prazer perfeito,
É função sem igual! função de arromba,
Aqui reviras tu, Inveja, a tromba.
Se não turbe este gosto audaz pedante.
Que se o faz, feito em pó é num instante,
Temos lei: ignorância não se alegue:
Para que esta notícia a todos chegue
É que à voz do tambor que vai troando
Vou eu ao ar este pregão lançando.
J. E. M. S.

Transcrição e comentários de António Amaro das Neves
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